A Orquestra de Jazz de Matosinhos lançou em disco o projeto “Música brasileira, músicos portugueses”, o último com curadoria do musicólogo Zuza Homem de Mello.

Sem a arquitectura, é muito provável que o novo álbum da Orquestra de Jazz de Matosinhos (OJM), “Música brasileira, músicos portugueses”, nunca tivesse sido pensado.
A conexão improvável é facilmente explicada. Em 2019, a Casa da Arquitetura procurou assinalar o encerramento da exposição “Infinito vai – 90 anos de arquitetura portuguesa” com um concerto da OJM, também sediada no mesmo quarteirão da Real Vinícola.
O desafio de estruturar o conceito foi então lançado ao lendário musicólogo Zuza Homem de Mello. Em vez de propor uma revisitação dos grandes padrões musicais de seu país, o curador propôs uma abordagem diferente: a interpretação de um repertório que incluísse “a diversidade dos gêneros musicais brasileiros”. Assim, ao lado do conhecido “Corcovado” ou “Carinhoso”, também não faltaram ritmos muito diferentes, como o choro, o samba ou o frevo pernambucano.
“Tivemos que aprender ritmos bem diferentes daqueles que estamos acostumados. Foi muito desafiador. É como aprender uma dança: precisamos de conhecer os ritmos e passos certos para não os confundir”, partilha Pedro Guedes, fundador da orquestra de Matosinha que assumiu a direção musical deste projeto.
Ao concerto de apresentação, no final de 2019, seguiram-se outros quatro, em locais e ocasiões diferentes, nos três anos seguintes. Mas a morte de Zuza, em 2020, aumentou o desejo entre os participantes do projeto – os integrantes da OJM, mas também os músicos Kiko Freitas e Gabi Guedes – de eternizar em disco esta ampla parceria artística.
O “feliz encontro” de que fala Pedro Guedes proporcionou “uma viagem pela história e pelos lugares variados” da música brasileira, mas não foi, curiosamente, o primeiro que colocou a prestigiada formação em contacto com o outro lado do Atlântico. Há mais de uma década, a OJM gravou com Maria Rita, nome emergente da música popular. As diferenças entre os dois são, no entanto, notáveis. “O álbum anterior foi baseado em versões; neste há um pensamento musical mais profundo”, aponta Guedes.
Com show marcado para São Paulo ainda este ano (“será uma grande responsabilidade”, afirma o diretor), a orquestra já pensa em levar músicas brasileiras com toque jazzístico para outros lugares. Tudo sem perder de vista o lema habitual: “esbater fronteiras e abrir novos caminhos”.

