“Estou aqui no meu cantinho do céu.'' Elsa Claro é a única moradora de Aigra Velha há mais de uma década
Elsa Claro aventura-se na solidão da aldeia de xisto mais alta do país, entre o céu e a terra, a 770 metros de altitude. Ela é a única moradora de Aigra Velha, Góis, que mora lá há mais de 10 anos.
Rodeado pelas vastas e verdes montanhas da Serra da Lousan, o pastor de 62 anos, cujo rosto reflecte a dureza da sua vida no campo, conduz oito ou nove cabras por vales e encostas repletas de urze. carqueja e tojo.
Paz e tranquilidade são as palavras de ordem neste recanto de Coimbra, e Elsa sente-se verdadeiramente em casa. “Estamos aqui no nosso cantinho do céu. Você provavelmente pode ver as estrelas daqui à noite” ele diz.
As raízes da Aigra Vella
Elsa Claro nasceu em Cova do Lobo, Lousã, onde viveu até aos 22 anos, e depois do casamento fixou residência aqui com o marido André Claro.
“Foi amor à primeira vista”, enfatizou o pastor, lembrando-se do falecido amigo com profunda nostalgia.
Quando Andre a pediu em casamento, ele pediu a ela Escolha entre Lisboa ou o local “mais próximo do céu”, cidade natal dele. Entre a agitação da cidade e a tranquilidade das montanhas, Elsa não hesitou… Mas ele admite que nem tudo foram rosas.
“Quando cheguei aqui, era um pouco caro. Ainda não havia luz e todas as estradas eram trilhas de cabras sujas. Eu tinha que descer para fazer compras e tudo mais, e tinha que carregar tudo nas costas. “Não aconteceu. Isso não aconteceu. Demorou mais de quatro horas para chegar aqui”, diz ele.
Aigla Veliha, onde agora vive apenas Elsa, nunca foi palco de muita comoção, mas outrora esta pequena aldeia tinha muito mais habitantes, todos membros da família do seu marido. Os sinais do tempo foram corroendo a aldeia aos poucos e no final só restou este morador.
“Quando eu cheguei aqui eu tinha meus sogros, eu tinha minha cunhada, eu tinha uma mulher e ainda tinha quatro ou cinco moradores aqui. Aí eles faleceram e minha cunhada saiu. “Meu marido também foi embora, então fui só eu”, disse ele enfaticamente, parecendo nostálgico e um tanto pensativo.
Mesmo assim, este corajoso pastor de 62 anos deixa claro que não se sente sozinho e que a natureza é a sua melhor amiga.
“Tenho animais, tenho cachorros, tenho pássaros, tenho cucos e adoro ouvir os cucos. Eu não me sinto sozinho, não” ele defende.
Porém, sua amargura se deve principalmente ao último motivo. Fui forçado a dizer adeus às pessoas que mais amava.nomeadamente a dor de ver André Claro partir “deixando tanta coisa para trás” há quase uma década.
“Eu estava muito faminto.. Éramos seis irmãs e só Deus sabe o quanto nossa mãe passou para nos criar. Perdi meu pai quando tinha 11 anos e ele também morreu de câncer de pulmão. Meu marido faleceu em agosto. 6 de agosto de 2011, e minha mãe faleceu no dia de Natal do mesmo ano”, disse Elsa, visivelmente emocionada.
“Foram as pessoas mais importantes da minha vida. Não foi fácil. Dizem que a vida continua e que estamos sempre ansiosos, mas nunca esquecemos”, sublinha o lousanense.
“Galinhas de fazenda não querem aves.”
Após a morte do marido, vítima de câncer na cabeça, Elsa passa algum tempo em um orfanato, mas sente falta de Aigra Belja e volta para “herdar” o legado do padrasto e do marido. Aqui, os dias são dedicados à agricultura e à criação de cabras. Ao entardecer, eles também produzem queijo para alimentação.
Mesmo na sua vida agitada, Elsa ainda consegue arranjar tempo para ir à aldeia vizinha de Aigra Nova “tomar um café e conversar” na Lusitânia Liga de Amigos da Serra da Lousa.
Aqui, num lugar chamado “Vale Encantado”, “As horas parecem dias, os dias parecem anos, as memórias são saudades, as saudades são decepções.”diz Elsa Claro. A pastora, uma mulher de alma calorosa, declara que “faz tudo igual”. “Aigla Veha é minha casa.”

