Feira e São João da Madeira atingem 1.000 despedimentos num ano após novos encerramentos relacionados com calçado
O encerramento da fábrica de calçado Lirans, que despediu 30 pessoas, eleva para mil o número de despedimentos no ano passado nos departamentos de Santa Maria da Feira e São João da Madeira, revelou esta terça-feira o sindicato.
Este cálculo foi feito pelo presidente do Sindicato Nacional dos Profissionais das Indústrias e Comerciais do Calçado, Bolsas e Afins (SNPIC), que disse à Agência Lusa que a suspensão das atividades da Relans na diocese de Pigueiros, na Feira, este mês, fez com que apenas o último de uma série de encerramentos definitivos nos dois referidos concelhos do distrito de Aveiro.
“A Relans não recebeu encomendas suficientes para continuar a operar, por isso pagámos integralmente os nossos funcionários e vendemos o pavilhão”, disse Fernanda Moreira à Lusa, acrescentando que os profissionais despedidos da empresa, das 30 pessoas que estavam em casa, “a maioria já foi recontratados, em fábricas locais.”
No entanto, o problema das encomendas perdidas tem sido o principal motivo do encerramento de outras unidades de produção de calçado na região desde o início de 2023, e os dirigentes sindicais afirmam que entre estes encerramentos, São João da Madeira destaca nove cidades. As fábricas da Ciaco, João Gómez Fernández, Camilton, Constantino & Moura e RAP. Na cidade de Santa María da Feira participam as empresas Impecável, António Correia Alves, Factorun Pele e Christian Dietz.
“No total, estas empresas representam cerca de 1.000 despedimentos, porque estamos a falar das maiores fábricas destes dois concelhos”, afirma Fernanda Moreira.
Desse total de demissões, cerca de metade dos trabalhadores já encontraram novos empregos. Lá, montadoras, fabricantes de gás e até “os funcionários mais velhos são privilegiados porque são os trabalhadores mais esforçados e têm menos tempo livre para cuidar dos filhos”.
Ainda assim, o presidente do sindicato salienta que os já referidos 1.000 despedimentos nas 10 fábricas são acompanhados de outros despedimentos, colocando-os em duas situações distintas. Por um lado, há demissões em empresas que reduziram sua força de trabalho. Eventualmente, um pequeno número de funcionários foi demitido. Por outro lado, algumas unidades continuam a funcionar mas estão a “passar por algumas dificuldades, sobretudo porque estavam dependentes de encomendas de grandes fábricas que desapareceram”.
A somar a esta situação estão as reorganizações destinadas a aumentar a sustentabilidade financeira das organizações existentes, como é o caso da multinacional dinamarquesa Echo. Em março, a empresa anunciou a demissão de 54 dos cerca de 900 funcionários de sua divisão Feila.
Contudo, Fernanda Moreira insistiu que “a situação está a estabilizar” e concluiu: “Acredito que a situação irá melhorar num futuro próximo”.
O número de desempregados da indústria do couro e dos produtos de couro, incluindo os sectores do calçado e dos curtumes, inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional, aumentou mais de 80% no ano passado, passando de 2.455 para 4.435.
Os últimos dados do (IEFP) mostram que em Fevereiro os trabalhadores desta indústria representavam 0,9% do total de desempregados inscritos há um ano, contra 1,5% hoje.
Contactado pela Lusa no sábado, o diretor de Comunicação da Associação Portuguesa de Calçado, Peças, Produtos de Couro e Sucedâneos (APICCAPS) disse que face ao “ano totalmente anormal” de 2022, haverá “realinhamento” no setor”. está em andamento. Entre eles, “as exportações aumentaram mais de 20% e o setor criou praticamente 4 mil empregos”.
Segundo a APICCAPS, a “recalibração” verificada desde 2023 “está relacionada com a dinâmica que se tem verificado na indústria do calçado a nível internacional” em resultado da situação económica, resultando num declínio de 11 empresas. % das importações provenientes da Europa e 30% das importações provenientes dos EUA, estes dois mercados representam em conjunto mais de 90% das exportações de calçado de Portugal.

